Por André Sabino
A crise financeira da Santa Casa de Misericórdia de Rondonópolis continua gerando preocupação, mas uma paralisação dos médicos que atuam na unidade foi evitada após um acordo com a administração do hospital. A decisão foi tomada em reunião realizada nesta semana, garantindo a continuidade dos atendimentos essenciais.
O vereador e médico obstetra Dr. Manoel da Silva Neto comentou a situação em entrevista concedida à Rádio 105 FM, no programa “Conexão 105″ com o jornalista Orestes Miraglia. Na entrevista, ele celebrou a decisão dos profissionais de não interromper os atendimentos, ressaltando a importância da Santa Casa para a população do município. “Fico muito feliz de não estarmos enfrentando uma paralisação. A Santa Casa é essencial para nossa cidade, e qualquer interrupção prejudicaria não apenas os pacientes, mas também os médicos e a própria instituição”, afirmou.
Segundo Dr. Manoel, os médicos concordaram em aguardar a efetivação de um cronograma de pagamentos apresentado pela administração do hospital. Esse plano prevê a regularização dos salários em atraso dentro de um prazo de três meses. Caso o acordo não seja cumprido, uma nova paralisação pode ser considerada em um período de 24 a 48 horas.
A situação financeira da Santa Casa se agrava com uma dívida acumulada que ultrapassa os R$ 70 milhões. Para investigar a origem desses problemas e buscar soluções, a Câmara de Vereadores em Rondonópolis, aprovou uma Comissão Especial de Inquérito (CEI), que começará os trabalhos nos próximos dias.
O médico do povo destacou que a comissão tem caráter colaborativo e não de perseguição. “O objetivo é entender os problemas e apontar caminhos para melhorar o funcionamento da Santa Casa. Precisamos unir esforços com a classe política e buscar soluções definitivas, pois não adianta apenas pagar débitos atrasados se o sistema não for corrigido”, pontuou.
A expectativa é que, essa mobilização e a atuação da CEI, seja possível encontrar mecanismos para garantir a sustentabilidade da Santa Casa e a regularização dos pagamentos dos profissionais de saúde.
O vereador explica ainda que devido a evolução da medicina, trouxe inovações e avanços tecnológicos que ampliaram significativamente a capacidade de atendimento da Santa Casa de Rondonópolis. No entanto, esses avanços também elevaram os custos operacionais do hospital, contribuindo também para a atual crise financeira da instituição.
O obstetra pontuou também, que a realidade da saúde mudou drasticamente ao longo dos anos. “Antigamente, exames como ultrassonografia e tomografia eram raros. Cirurgia cardíaca, por exemplo, era algo restrito a grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje, temos esses serviços aqui dentro da Santa Casa, mas para manter essa estrutura funcionando, os custos são altíssimos“, destacou.
O parlamentar mostrou que a ampliação dos serviços hospitalares reflete diretamente no aumento das despesas. “Ter uma UTI neonatal sempre foi um sonho, e conseguimos torná-lo realidade. Mas com isso vieram novos desafios: médicos de plantão, enfermeiros, técnicos de enfermagem, equipe de limpeza, lavanderia, manutenção e outros. Tudo isso gera mais custos“, afirmou.
Atualmente, a Santa Casa enfrenta um déficit mensal de aproximadamente R$ 3 milhões, e a principal razão para esse problema é que os repasses recebidos pelo hospital não cobrem integralmente os gastos com os serviços prestados. “Cada leito hospitalar tem um custo fixo diário, e precisamos garantir que haja recursos suficientes para manter essa estrutura funcionando. O que acontece hoje é que a Santa Casa está gastando mais do que recebe, acumulando prejuízos todos os meses“, explicou o vereador.
Esse desequilíbrio financeiro ocorre porque os custos de manutenção da unidade superam os valores repassados pelo governo. “O hospital gasta mais do que recebe, e nenhuma instituição consegue sobreviver assim“, alertou.
Diante desse cenário, Dr. Manoel defende que um estudo sério seja realizado para ajustar os repasses financeiros à realidade da instituição. “Se não houver uma revisão dos valores repassados, a crise vai se agravar ainda mais. Precisamos de soluções concretas para evitar que, no futuro, a população fique desassistida“, alertou.
A discussão sobre a sustentabilidade da Santa Casa continua sendo uma prioridade para as autoridades locais, que buscam formas de garantir que o hospital continue oferecendo atendimento de qualidade sem comprometer sua viabilidade financeira.
A decisão dos médicos de manter os atendimentos é um alívio temporário para os pacientes que dependem da Santa Casa. No entanto, o impasse financeiro permanece, e as próximas semanas serão decisivas para determinar o futuro da unidade hospitalar e de seus profissionais.